Foto de 03/06/2021 - Ilusão de Óptica... parece um dia excelente...naaaaaaa o tlm é que engana... vento demais, mar bravo, água gelada e não havia vivalma a usufruir da praia.
Não sei se conhecem a expressão " Ah! O Verão no Oeste... fogueira acesa e castanhas assadas" pois hoje de manhã era mesmo isso que apetecia :) Muitas vezes dizemos "Viram por aí D. Sebastião? Deve estar a chegar"... Nem a Serra dos Candeeiros se via...
A propósito deste tema, vi noutro dia este texto no facebook, e é mesmo isto que acontece ano após ano, eu vivo a +/- 20 km da praia e dias de praia bons são uma miragem, só mesmo vivendo lá para aproveitar quando há horas boas.
" Para todos os veraneantes que estão com ideias de virem visitar a minha região do Oeste, deixem-me descrever um pouco os hábitos dos Oestinos no Verão.
Foi aqui que foi inventada a palavra resiliência.
Resiliência é a capacidade que qualquer Oestino tem para suportar o facto de S. Pedro ter filhos e enteados e vestir o nosso Verão de outras cores.
Um dia de Verão como, por exemplo, os lisboetas ou os algarvios conhecem, só acontece por aqui uma meia dúzia de vezes na estação (4 dias marcados escrupulosamente no meu calendário de 2017).
Resiliência é, por exemplo, o facto da minha filha Maria e as amigas terem ido ontem e hoje passar o dia à praia apesar de estar um nevoeiro que nem se vê o mar e de estar a cair uma chuva miudinha.
Um Oestino quando chega o Verão pensa “Verão é Verão e se não temos sol para ir à praia, temos pena
vamos à mesma”.
Resiliência é a capacidade que qualquer Oestino tem de pensar que lá por volta das sete da tarde o tempo há-de abrir e vai estar um final de tarde espectacular.
Resiliência é a forma como os Oestinos olham para o Verão tal e qual os sportinguistas olham para o campeonato nacional: “Para o ano é que é!”.
O nosso Verão é diferente. Marcado pela autêntica barreira que é a Serra do Montejunto e que impede a natural migração das nuvens para sul, acumulando-as, empoleiradas umas nas outras, sobre a nossa região.
Imaginem os náufragos do Titanic a correr para o último salva-vidas, empurrando-se e encavalitando-se uns nos outros sem hipótese para progredir mas também a tentar não cair borda fora. São assim as nuvens em Montejunto. As que vieram do Porto chegaram às seis da manhã, as da Galiza às oito e as que vieram do Golfo da Biscaia às dez. Agora estão todas encavalitadas sobre nós.
Como esta situação perdura praticamente até Outubro, altura em que já está toda a gente a trabalhar e aparecem então uns dias jeitosos, os Oestinos passaram a ter uma bitola muito baixa e faz induzir em erro os que por cá vêm a banhos.
É preciso traduzir com atenção o que os locais querem dizer e sobretudo ter muito cuidado com as suas hipérboles.
Por exemplo, quando perguntamos para a Foz do Arelho como está o tempo (e isto é válido da Figueira da Foz até Peniche, embora os do Baleal, por razões promocionais, alardeiem um Verão constante digno das Caraíbas), é preciso saber interpretar as suas palavras.
“Está um dia espectacular” é uma expressão muito popular, (sobretudo quando se referem ao único dia em que não pudemos ir à praia) mas muito evasiva.
Como “dia espectacular” entenda-se um dia em que não chove, em que a temperatura aguenta-se estoicamente acima dos vinte graus e o vento não nos atira a areia para os olhos.
Um “está muito bom mas com um pouco de vento” significa que está tudo deitadinho na areia, protegidos não por um mas por pelo menos dois pára-ventos e só levantam a cabeça quando giram o corpo ou quando vão fazer um xixi à beira mar. Mesmo para as fotos evitam levantar-se, razão porque vemos sempre a imagem a começar no entrepeito das moçoilas e daí até aos pés.
A “água está espectacular” significa que no canal que vai da costa entre a Foz do Arelho e o Baleal e as Berlengas não há nenhum iceberg à vista.
A água estar espectacular implica um ritual mais complexo que o das oferendas a Iemanjá.
Vamos molhando os pés enquanto conversamos com os amigos. Podemos escolher entre o mérito do trabalho feito pelo Bruno Carvalho no Sporting ou as consequências do Brexit, desde que dê para uma hora. Verão centenas de pessoas à beira-mar neste exercício. As senhoras falam dos pediatras e das doenças dos filhos. Depois, como quem não quer a coisa, começam a avançar e a recuar deixando que a água os molhe até aos joelhos. Os mais afoitos, geralmente as mulheres que são mais insensíveis, deixam que as ondas lhes batam nas pernas e as molhem até à cintura.
Depois passamos a um dos momentos mais críticos. Entramos na água até à cintura (quando a maré está baixa pois caso contrário vai tudo a eito com mergulho sem pára-quedas) e começamos a salpicar o tronco e a banhar os ombros.
Meia hora depois terminamos a nossa oração a S. António de Pádua e damos um mergulho na água. Um mergulho que não chega a um segundo mal contado.
Os mais corajosos ainda arriscam um segundo mergulho ou mesmo um terceiro (Que diabo! Há que aproveitar. Um dia de Verão assim pode só voltar para o ano).
Depois saem da água a tremelicar e de dentes bem cerrados e quando são interrogados por quem chega, reportam:
- Então como está a água?
- Está espectacular!"
Crónica de Paulo Caiado,
sobre a resiliência nascida no Oeste e o nosso Verão"